quinta-feira, 28 de julho de 2011

.ao terceiro amor fugaz

Chamas a envolverem-nos na varanda,
Por todo o quarto, espirítos passados
queimam a memória, ardem sentidos.
Não tinha que ser contigo,
o sabor a frutos do bosque
e o calor nocturno do sul,
ameaçava beijar-me o corpo.
Não tinha que ser contigo, repito.
A tua jovialidade é demais para
a ideia que tenho sobre a paz,
o teu corpo é genuinamente puro
para a obscenidade que desenho
numa parte incerta das tuas costas.
Não és nada daquilo que sou,
e o quem eu sou, não sabes.
Mas deixa-te envolver nos meus braços,

o amor descrito nos livros que leio
não é nada comparado
com erotismo da nossa respiração conjunta.

quinta-feira, 30 de junho de 2011



Tenho o mar diante o meu corpo.

Mas ainda não estou pronta para me entregar.

Vim apenas procurar as razões do nosso amor

nunca se afogar.

Pedi aos culpados que se apresentassem,

Hoje,

ao pôr-do-sol,

sob as nove horas nocturnas.

E ninguém apareceu para se culpabilizar dos danos,

das mágoas, do tempo perdido a sentir.

Trouxe os sentimentos que quero trocar,

tenho demasiado repetidos.

Tenho a corda que amarra o coração,

a prender as lágrimas.

E as malditas borboletas que não param de voar

sob um estômago alucinado com tanta agitação.




Porto Côvo

22 junho 2011






quinta-feira, 26 de maio de 2011



"onde possa plantar os meus amigos, os discos, os livros e nada mais"


a ouvir Elis Regina

sexta-feira, 20 de maio de 2011


O amor cheira a manjericão e abóbora-menina,
Morangos maduros, cerejas e tangerina.



(terceira aula e o coração cheio)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Hoje, na ida à mercearia

Entre a escolha dos melhores morangos e das tangerinas mais doces encontrei Eduardo Gageiro (o melhor fotografo português), falou-me de imagem, do amor à fotografia, do seu passado e de literatura, da forma como aprendeu a organizar um livro com o José Cardoso Pires...porque no fim tudo tem que acabar bem, quando estamos bem.
À cerca de cinco anos comecei a cozinhar. Por motivos escolares tive que ir viver para longe, numa residência de raparigas. Sou neta de uma cozinheira fenomenal que ainda hoje sabe as receitas de qualquer iguaria, apesar de já não conseguir acender o fogão. Uma cozinheira típicamente portuguesa, com os enchidos e refeições bem condimentadas que o nosso povo merece. Assim que me vi sozinha fui obrigada a começar a cozinhar. Não era uma actividade que gostasse, sempre tive uma familia que o fazia por mim. Aos poucos fui conhecendo os legumes, as leguminosas e um mundo mais saudavel. Aprendi a amar a cozinha com tudo o que nela há, a admirar os seus instrumentos mais milenares e tradicionais. Aos poucos compreendia que cozinhar era uma terapia, tal como a poesia, o teatro e a fotografia.

Quando penso que o que estou a fazer neste momento (a minha profissão) não me preenche, começo a cozinhar, a preparar alimentos, a pensar no quão feliz seria se tivesse uma horta e pudesse colher os meus próprios legumes, biológicos e saudaveis como todos deveriam ser.

Foi então que conheci o IMP (Instituto Macrobiótico Português) e tomei conhecimento do curso de culinária macrobiótica. Aprender a "ouvir" os alimentos e o nosso corpo é das coisas mais bonitas. E nada faria mais sentido numa tarde/noite de terça-feira, durante cinco aulas, que ouvir o professor Marco e vê-lo a preparar "saúde" para jantar.



(primeiro dia sem carne: folhado de soja com rabanete desfiado em molho de vinagre de ameixa e courgette com gomásio, mangericão e cebolinho fresco)






terça-feira, 3 de maio de 2011

Hoje começa o curso de cozinha macrobiótica.

Uma nova fase.

sábado, 16 de abril de 2011

#CRIME
Guardo o teu batôn na ponta da navalha
com que te jurei amor eterno.
E o fósforo aceso
pronto para te dar lume
no caso de nos faltar o oxigénio.
Espero por ti no Principe Real,
no penúltimo banco do jardim.
Dizem que há noite é perigoso.
Mas amar-te foi um risco
e nunca ninguém me alertou
para o risco de incêndio no corpo
e roubo casual eterno.

segunda-feira, 4 de abril de 2011



As minhas mãos mantêm as estrelas,

Seguro a minha alma para que se não quebre

A melodia que vai de flor em flor,

Arranco o mar do mar e ponho-o em mim

E o bater do meu coração sustenta o ritmo das coisas.


Sophia de Mello Breyner

quinta-feira, 24 de março de 2011

Se é este o destino escrito, retiro-me. A medalha que trago ao peito, Onde guardo um fio da tua franja Está demasiado pesada. A armadura que me segura o corpo, Está exausta dos punhados de ferro Que a ela atiraram em tempos de guerra e cólera. Já não faz sentido continuar Sem que o cordão se parta e eu me debata sobre o teu rosto Sem o beijar, Sem acariciar os teus seios e os apertar um contra o outro, na fricção de te amar. Retiro-me de dentro de ti: Imponente e rejubilante. Sem a inocência e a candura de um primeiro amor.

domingo, 13 de março de 2011

DOIS


Ninguém celebra datas sozinho.
A angústia de um dia especial
é uma arma carregada
pronta a disparar nos dias que hão-de vir;
são flechas índigenas de recordações,
que quando disparadas sob um corpo nú,
o faz tremer com o frio da ilusão.

segunda-feira, 7 de março de 2011


Amor à primeira vista, absolutamente.

[vídeo de Tiago Pereira in Música Portuguesa a gostar dela própria]

sexta-feira, 4 de março de 2011


Março é o mês de reactivar a vida que hibernou cá dentro.
SOBRE CONDUZIR...

Desde que tenho carro, o mar ficou mais perto, a sensação de fuga passou a funcionar na sua plenitude e o hábito de andar sozinha é cada vez mais comum. O carro passou a ser a minha casa, lá tenho os discos, as músicas da vida, tenho janelas abertas que dão sempre para sitios diferentes, tenho roupa e calçado, tenho o mundo através do mapa. Ás vezes apetece-me ir para mais longe, quebrar o sentido ordinário de orientação e deixar-me levar pela estrada. Conseguia ficar dias só a conduzir...só eu e a canção que eu escolhesse.

terça-feira, 1 de março de 2011

[rascunho]

#1

Em março entreguei-me à tua boca proibida e dos teus lábios chegou a poesia, as praias estendidas na costa e os pêssegos doces.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011


um dia de sol enche-me a alma

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011



VESTIDO VERMELHO
Perdi-te na partitura de Debussy,
enquanto colhias as papoilas selvagens
naquela noite de Julho agreste.
Os teus cabelos ardiam,
eram mato a queimar-me o rosto,
O teu corpo era a tocha
que suportava o fogo
E guardava as minhas mãos duras
da rigidez de um Janeiro tempestuoso.

Queimei os lábios no prelúdio
da tua melodia, pouco antes de te perder.

Tentei, ainda, guardar a lava
do teu olhar,
enquanto corrias pelo esquecimento,
abanando o vestido por queimar.
Mas as gavetas onde guardo os vulcões
estavam ocupadas
com cinzas dos poemas, que me ardem nos olhos,
quando na alma já não cabem.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

#a minha avó sempre me ensinou que só se confia em nós próprios...e cada vez lhe dou mais razão.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011


#be my valentine

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011


Palavras de ordem para hoje: Sair, fazer exercício e ocupar a mente.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A falta de rigor do inverno,
arrepia-me
e conforta-me

A sexta-feira aproxima-se numa santidade imensa e efémera. O corte profundo do trabalho afincado, deixa-me num estado de profunda lentidão. Entre o meu cérebro e a minha alma, estão as árvores impiedosamente despidas. Gosto de apreciá-las em dias de fragmentado descanso.
Deixo-me deambular por entre os troncos femininos, e fico a olhá-las em contraluz, a pensar que folhas darão na primavera.
E continuam despidas à minha frente, pouco púdicas e invernosas, as árvores. Num simetrismo puro, começam-me a envolver numa instrumental melodia sobre os ramos. Nada me daria mais prazer que ficar a ver-vos, irmãs árvores, a dançarem sobre vós mesmas, enquanto deambulo entre a vossa nudez corporal e a minha rigidez de pensamento.
E sol de inverno, arrepia-me sempre, com a sua beleza inspiradora.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

anda com ideias...

Ás vezes só precisamos de tempo para organizar a vida, enfrentar o medo e só por hoje não me zangar com o mundo que tenho.

Obrigada, Mestre L., por me ensinar que posso sempre voltar aos lugares onde me sinto bem. Estamos ligadas, sim...estamos tão ligadas...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011


Começei ontem o meu diário de reikiana e não há nada mais bonito que descubrirmos o nosso refúgio interior e o nosso Eu.
Tenho à frente vinte e um dias de meditação e purificação. E neste momento da minha vida, nada faria mais sentido que parar e meditar [temos um mundo tão bonito dentro de nós].
Namastê*

domingo, 23 de janeiro de 2011


cansaço
de pessoas preconceituosas,
do trabalho não reconhecido,
da afronta
e do sufoco
[passo a redundância]

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sinto-me tão bem.
E não é amor,
é paz interior*

Entre ontem e hoje: ouviu ler as cartas de tarot, tomou consciência do que se passava na sua vida e tudo ficou mais claro, fizeram-lhe uma massagem de corpo inteiro, introduziram-lhe os simbolos de reiki, a bolha violeta e a bolha dourada, fez uma drenagem linfática e jura a pés juntos que nunca se sentiu tão completa e zen.



sábado, 15 de janeiro de 2011



Ontem resolvi dar um grão de exoterismo por todos os meus pensamentos.
Porque é preciso começar a mudança por algum lado e preciso tomar consistência, antes que os meus fantasmas me deitem ao chão.


Nada mudou. Ao fim de tantos anos, o meu
passado é ainda o mesmo passado - nenhum
rosto diferente para desviar o rio da memória,
nenhum nome depois. Para te esquecer,

devia ter partido há muito tempo, como viajam
as aves de verão em verão. E tentei; mas as malas
abertas sobre a cama eram livros abertos,
e eu nunca fechei um livro antes do fim. Por ter

ficado, nada mudou jamais - e o meu passado
ainda o nosso passado; e o rosto que tinha antes
de me deixares é o que o espelho me devolve no
presente...

.Maria do Rosário Pedreira.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

*
É tempo de pecados,
De desabitaveis silêncios
entre as ranhuras das portas.
É tempo de rasgar os mapas riscados e
bordar os caminhos nas tuas pernas,
deixando-as perdidas
no sexo infértil de quem as ousar comprar.
Não é tempo de morangos,
mas mesmo assim
continuamos a comê-los,
não é?
*

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

ponto final.

[ à parte ]

F.
Sabes que amanhã não vai ser um dia fácil, tudo o que mexe com a saúde abala a estrutura. As lágrimas correm-lhe do rosto sempre que se lembra que amanhã é dia de exame.
Estou confiante porque sei que estás connosco, tu e mais gente, aqui bem perto. Oiço o teu assobio baixinho junto ao meu cabelo, e mais logo, quando as luzes se apagarem e for noite no meu quarto, o assobio estender-se-à pela casa.
Sei bem que estás preocupado com o resultado, mas também sei que darás o teu auxilio transcendente. Eu sei...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Há dias que precisamos de mudanças súbitas!
Hoje decorei-me com um colar e fez toda a diferença.


promessa saúdavel:

quinta-feira é o dia de retomar a ginástica



Lembras-te quando fomos beber chá branco e roibos àquele café ao pé do Trindade?Estavamos à procura de algo que nos aquecesse o corpo gelado e molhado pela chuva. Lembro-me que foi dos encontros mais importantes, falámos do que mais nos atormentava, como sempre, e de como descubrimos um caminho novo por entre as ervas daninhas que teimavam em fechar o nosso caminho. Disse-te que nunca ia sair do meu país, pecisava das pessoas que cá estavam, do amor que tinham para me dar todos os dias, do carinho e da vivacidade depressiva lisboeta. Precisava de a ter ao meu lado. Ela podia ser minha quando bebiamos muito. E isso bastava-me e alimentava-me.

Hoje já nada do que tenho me basta para me prender ao meu país, à minha cidade, ao meu rio.

E se o cosmos congitar a meu favor, irei...sem questionar o mundo, sem questionar o amor elouquente de março.

Não chores quando eu partir,

H.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Arrumei o dia anterior para baixo do tapete,
é assim que tenho vindo a passar os dias,
a varrê-los com a mão para que ninguém veja
a sua inutilidade exacerbada.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011



queria gritar ao mundo que te tive nos meus braços naquela noite e que os beijos ardentes que me deste, foram os mais quentes do inverno.

e queria não viver embriagada de que o nosso amor é vodka pura.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Não há nenhum frenezim. A família não está; nem tão pouco nos vamos cruzar hoje. Não há crianças a correr, já não há crianças entre nós. A casa cheira a farinha, a ovos, a erva doce, a mel... um perfume que preparei toda a manhã, com o coração nas mãos e as mãos na massa.
Aqueço o forno a 180º e deito lá para dentro todos os pensamentos. Se ebolir, talvez anule um por um.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Petição natalícia

Procura-se poeta, que goste de bossa nova, praia no Inverno e vegetais.

Hoje quis aventurar-me num plano de fuga, mas o gasóleo era pouco e estava a chover.

domingo, 19 de dezembro de 2010

o coração dela era feito de um finíssimo cristal pronto a quebrar cada vez que o tempo mudasse.

e quando se lembrava do dia em que vinho suportou o amor maior que teve na vida, afagava o rosto na neve e gelava as lágrimas junto à terra.

dizem que o pequeno estilhaço de cristal do coração que ainda tem espalhado pelo corpo, se transforma todas as noites na Primavera que viveu.

durante o dia, jura pelo sagrado, que o coração está intacto e que não há lembrança que o destrua.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

É intelectual falar-se da morte dos grandes vultos da cultura, mas na escola sempre me chamaram de "intelectual". Quando falava sobre literatura, o mundo do meu tamanho questionava o que significava tal palavrão. Um dia dei uma pequena palestra a falar sobre livros, tinha 10 anos. Mostrei que os livros podem ser os nossos melhores amigos, que podemos conhecer o mundo através deles e sorrir, mesmo quando a vida não nos deixa sorrir. Emprestei os livros, como quem empresta vidas...e nunca me devolveram os poemas da Sophia, nem tão pouco a Alice Vieira que levaram para baixo da cama.
Era a intelectual, mesmo sem usar os óculos de massa que hoje suporto na cara. Era a intelectual que via o Acontece com o Carlos Pinto Coelho na emissão da televisão pública portuguesa. Reclamava com o meu pai, porque não suportava ter que ver aquilo. Nunca ninguém ia falar com uma miúda que via o Acontece todas as noites. Era o cúmulo do intelectualismo de alguém de 10 anos. Ouvia o Acontece, sem querer, enquanto rogava pragas à televisão.
Mais tarde tudo fez mais sentido, o "assim acontece" do Carlos Pinto Coelho, começou a alimentar os meus trabalhos para a escola e via resultados nessa visualização.
Ontem, enquanto lia a noticia da morte de Carlos Pinto Coelho, saúdei-o à noite. Trouxe-nos a Rua Sésamo, que me ensinou as letras, o Acontece, que me ensinou a ler com o coração e queria-nos trazer uma nova televisão...mais cultural e menos popular.

E assim acontece... para sempre.
Cada vez mais gosto menos de festa e mais do silêncio e das folhas em branco.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

verdade #2


Quantas vezes me fechei para chorar
na casa de banho da casa de minha avó
lavava os olhos com shampoo
e chorava
chorava por causa do shampoo
depois acabaram os shampoos
que faziam arder os olhos
no more tears disse Johnson & Johnson
as mães são filhas das filhas
e as filhas são mães das mães
uma mãe lava a cabeça da outra
e todas têm cabelos de crianças loiras
para chorar não podemos usar mais shampoo
e eu gostava de chorar a fio
e chorava
sem um desgosto sem uma dor sem um lenço
sem uma lágrima
fechada à chave na casa de banho
da casa da minha avó
onde além de mim só estava eu
também me fechava no guarda-vestidos
mas um guarda-vestidos não se pode fechar por dentro
nunca ninguém viu um vestido a chorar

Adília Lopes
C.
ou o egoísmo de te ter

*

Pousa a tua mão trémula
sobre os meus caracóis,
Agarra o terço,
conta a conta,
e quando encontrares
a linha da vida na palma da mão,
estica-a.
Preciso que o bater do teu coração,
se sobreponha à tempestade impetuosa
da procura do meu nenúfar afundado
no meu coração por encontrar.

verdade #1

"Quando nos põe numa vida, não sabemos ter outra"

Dulce Maria Cardoso

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Intimidade

[excerto da Primeira Carta II]
Venceste» -, digo. Logo sou eu que te venço e tu perdes, pois confiado na vitória esqueces a vigilância sobre mim, que te examino.
Friamente?
Que outra maneira tenho de examinar as coisas, os outros: com toda a minha paixão? Aquela alimentada pelo simples prazer ou dor que me dá senti-la. - Assim te procuro, te uso, te escrevo; porém as palavras não são elos, nem pontes, nem laços a desatar na solidão das salas.
Em salas nos queriam às três, atentas, a bordarmos os dias com muitos silêncios de hábito, muito meigas falas e atitudes. Mas tanto faz aqui ou em Beja a clausura, que a ela nos negamos, nos vamos de manso ou de arremesso súbito rasgando as vestes e montantando a vida como se machos fôramos - dizem.
De imediato então nos querem tomar pela cintura, em alvos lençóis de cama se necessário, e filhos. Que mãos nos galgam as carnes a fim de retomarem a posse, impondo-nos matriz de dono, porque dano causamos na recusa e menstruo será o estigma que eles tomam por feminina causa de nos exigirem a vontade e silenciarem o gesto com que nos despimos ou negamos para nosso próprio proveito e palavra dada a nós mesmas.
Direito conquistámos, também, de escolher vingança, já que vingança se exerce no amor e amor nos é dado de uso: usar o amor com as ancas, as pernas longas que sabem, cumprem bem o exercício que se espera delas.


Mª Isabel Barreno
Mª Teresa Horta
Mª Velho da Costa

in Novas Cartas Portuguesas

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sobre as "novas cartas portuguesas" de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa...
Porque há muito tempo um livro não me deixava desarmada e ao mesmo tempo excitada de o ter em mãos.
Porque serei uma eterna amante, feminista e defensora dos direitos que, estas e outras mulheres, lutaram e defenderam como a própria vida, mesmo quando a sua liberdade estava em jogo.
Não há palavras para descrever o afecto que tenho por cada uma de vós, lutadoras da minha terra.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Guerra de Valores

Não, tu não sabes o que é a guerra.
Nunca lá foste sem uma armadura,
E quando tiveste medo, fugiste.
Enquanto, bala a bala,
os corpos se desfizeram no terreno à tua frente.

Não, tu não sabes o que é a guerra.
O que é ter um coração
atravessado nas costas,
enquanto te massacram a alma.
Não, tu não sabes o que é a guerra.
O teu corpo não tem arranhões,
nem está tatuado e a tua mente está
[intacta a qualquer ocupação militar
E essas armas que guardas,
tal trincheira plantada nos solos,
são as crianças que violas
em guerras de tijolos.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

tanto sentido...

Não sei porque se aflige tanto o mundo
se ficamos sozinhos.
Talvez ignore
que nós não somos mar de nenhuma praia,
que escolhemos poupar às falésias as cicatrizes
das ondas; e tudo para não aprendermos
o verdadeiro nome das feridas.

Maria do Rosário Pedreira


Queria amar-te em Paris, em todos os teus cantos arquitectónicos e margens do rio.
Se escrever-te é pouco menos de te ter, para quê ler as interlinhas do teu corpo?
Preparo as letras, que quero juntar, e quando ninguém estiver à espera, quando todos pensarem que o meu corpo é para velar e arder junto aos meus míseros poemas de inverno, solto-as em frases envoltas no doce ardor dos teus beijos . Somos pequenos ácaros nos lençois que nunca usamos, na cama que preparei para nós, como quem planeia um crime perfeito.
O meu foi querer-te, eróticamente, no título da minha história. E o teu foi morres-me no peito, sem me teres avisado antes para te dar um fim.

domingo, 14 de novembro de 2010

S/título S/palavras

A vida está um vazio de meter dó às notas musicais.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O melhor para se fazer numa sexta-feira à tarde é cozinhar e sonhar que um dia, talvez haja outro destino marcado para mim e alguém esteja à minha espera bem longe daqui e do inferno em que está a minha cabeça.



quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Gostar de ti é um poema que não digo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"rouba, algures, um final feliz para me oferecer"

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

PAVILHÃO B
Corríamos nos autocarros para que chegassemos sempre ao fim, no banco corrido a vida fazia-se muito mais fácil e feliz. Levavamos cassetes no bolso e um lápis no outro para uma rebobinação portátil das canções que nos faziam chorar sobre os amantes imaginados. Tudo era uma dor constante, o nosso corpo era um pequeno ser mutante ao qual nos tinhamos que adaptar a um nova roupagem interior todos os dias.

Choravamos muito, demos voltas intermináveis ao pavilhão, a alma encolhia-se para não mostrar as mazelas deixadas pelo acne. Eramos felizes porque nunca saíamos do sitio onde vivíamos. A estrada era mais cumprida do que é agora, os espaços eram maiores e as gomas não engordavam. E todos os dias me lembro de tudo o que podia ter sido diferente se continuasse a ouvir cassetes e não tivesse tido nunca a ideia de comprar um MP3.
L'amour ressemble aux maladies infantiles: fortes flèvres, délires, puis dans la plupart des cas se termine par un prompt rétablissement. Il se soigne avec les fleurs (em bouquet ou en tisane).
Dicionnaire médical 1847

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Hoje, quando chegaste naquele sopro da manhã, as lágrimas tentaram cair. Sabes, Leninha, que quando a alma das pessoas é muito grande o sopro que trazem é ainda maior. Estavas linda nas fotografias que tiraste. Tão mulher e com um olhar de criança tão intenso.
Ás vezes, quando não sabemos qual é o nosso caminho, basta seguir o coração.Ou então, fechar os olhos e deixar que alguma mão nos agarre.


Porque somos Elos Sociais

terça-feira, 19 de outubro de 2010

AMOR-DE-CONSERVA
Nenhuma palavra consegue cobrir as lágrimas que se prendem ferozmente contra os olhos. Se o que eu sinto é solidão ou a imensa dispersão de não ter nada, ainda que o coração fique preso ao peito com apenas duas cordas de linho.
O vinho seca no copo, já nem o prazer de esquecer me dá vontade de o extinguir até o meu corpo absorver cada gota da branca uva perdida.
Os olhos fecham, fico perdida no sol de inverno como se fosse chuva, brinco com as sombras e com as mãos. O rosto perdeu-se no intervalo das nuvens e na tentação de te ter.

E diz-me que
lá fora há mais mundo
e mais artes
para me deslumbrar.
E se o que sinto é solidão
ou medo de amar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

sempre é para sempre, F.















É urgente não questionar a falta que me fazes em tempos de guerra e cólera interna. Foste e és o maior dos meus amores. E se há alguém que ouse duvidar das lágrimas que por ti choro e o nome que clamo sob as flores que te deixo, não merece o sol quente de um dia invernoso. De ti herdei metade daquilo que sou. E para ti, eternamente, serei a mesma menina da fotografia colada na
carteira e na secretária da marinha.
Sempre é para sempre, F...mas é mesmo para sempre.