quarta-feira, 27 de outubro de 2010

PAVILHÃO B
Corríamos nos autocarros para que chegassemos sempre ao fim, no banco corrido a vida fazia-se muito mais fácil e feliz. Levavamos cassetes no bolso e um lápis no outro para uma rebobinação portátil das canções que nos faziam chorar sobre os amantes imaginados. Tudo era uma dor constante, o nosso corpo era um pequeno ser mutante ao qual nos tinhamos que adaptar a um nova roupagem interior todos os dias.

Choravamos muito, demos voltas intermináveis ao pavilhão, a alma encolhia-se para não mostrar as mazelas deixadas pelo acne. Eramos felizes porque nunca saíamos do sitio onde vivíamos. A estrada era mais cumprida do que é agora, os espaços eram maiores e as gomas não engordavam. E todos os dias me lembro de tudo o que podia ter sido diferente se continuasse a ouvir cassetes e não tivesse tido nunca a ideia de comprar um MP3.

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