quarta-feira, 27 de outubro de 2010

PAVILHÃO B
Corríamos nos autocarros para que chegassemos sempre ao fim, no banco corrido a vida fazia-se muito mais fácil e feliz. Levavamos cassetes no bolso e um lápis no outro para uma rebobinação portátil das canções que nos faziam chorar sobre os amantes imaginados. Tudo era uma dor constante, o nosso corpo era um pequeno ser mutante ao qual nos tinhamos que adaptar a um nova roupagem interior todos os dias.

Choravamos muito, demos voltas intermináveis ao pavilhão, a alma encolhia-se para não mostrar as mazelas deixadas pelo acne. Eramos felizes porque nunca saíamos do sitio onde vivíamos. A estrada era mais cumprida do que é agora, os espaços eram maiores e as gomas não engordavam. E todos os dias me lembro de tudo o que podia ter sido diferente se continuasse a ouvir cassetes e não tivesse tido nunca a ideia de comprar um MP3.
L'amour ressemble aux maladies infantiles: fortes flèvres, délires, puis dans la plupart des cas se termine par un prompt rétablissement. Il se soigne avec les fleurs (em bouquet ou en tisane).
Dicionnaire médical 1847

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Hoje, quando chegaste naquele sopro da manhã, as lágrimas tentaram cair. Sabes, Leninha, que quando a alma das pessoas é muito grande o sopro que trazem é ainda maior. Estavas linda nas fotografias que tiraste. Tão mulher e com um olhar de criança tão intenso.
Ás vezes, quando não sabemos qual é o nosso caminho, basta seguir o coração.Ou então, fechar os olhos e deixar que alguma mão nos agarre.


Porque somos Elos Sociais

terça-feira, 19 de outubro de 2010

AMOR-DE-CONSERVA
Nenhuma palavra consegue cobrir as lágrimas que se prendem ferozmente contra os olhos. Se o que eu sinto é solidão ou a imensa dispersão de não ter nada, ainda que o coração fique preso ao peito com apenas duas cordas de linho.
O vinho seca no copo, já nem o prazer de esquecer me dá vontade de o extinguir até o meu corpo absorver cada gota da branca uva perdida.
Os olhos fecham, fico perdida no sol de inverno como se fosse chuva, brinco com as sombras e com as mãos. O rosto perdeu-se no intervalo das nuvens e na tentação de te ter.

E diz-me que
lá fora há mais mundo
e mais artes
para me deslumbrar.
E se o que sinto é solidão
ou medo de amar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

sempre é para sempre, F.















É urgente não questionar a falta que me fazes em tempos de guerra e cólera interna. Foste e és o maior dos meus amores. E se há alguém que ouse duvidar das lágrimas que por ti choro e o nome que clamo sob as flores que te deixo, não merece o sol quente de um dia invernoso. De ti herdei metade daquilo que sou. E para ti, eternamente, serei a mesma menina da fotografia colada na
carteira e na secretária da marinha.
Sempre é para sempre, F...mas é mesmo para sempre.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Hermínia

hoje sorriu muito à conta deste documentário*

"...beijos por todo o corpo como cortes profundos que nunca vão sarar"
Maria do Rosário Pedreira

Querido F,
Como sabes o mundo já pouco me diz, tudo está confinado a uma tela de cores e de pessoas que só conheco através de uma imensidão de cabos e de distanciamento e desconhecimento físico.
A vontade de estar por cá começa a ser um ruído enorme sobre os desejos dos outros. Vê-los cheios de projectos e familias novas, sempre arruinou a minha pouca auto-estima e a minha concreta vontade de ser muito mais que aquilo que sou. Por isso decidi, hoje, que preciso de projectos, de estudos, de um processo maior de introspecção e de um carro para me levar a todos esses projectos.
O caos em que está a minha cabeça é o vazio que ecoa dentro da mesma, é possivel estar tão desconcertada que já nem reconheça o meu próprio rosto num dia de outono?
Hoje mais que nunca preciso que me ilumines um pouco mais e me devolvas o sentido perdido.
Dá-me as coordenadas e protege-me.
Sempre tua,
_________

sábado, 9 de outubro de 2010