quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

É intelectual falar-se da morte dos grandes vultos da cultura, mas na escola sempre me chamaram de "intelectual". Quando falava sobre literatura, o mundo do meu tamanho questionava o que significava tal palavrão. Um dia dei uma pequena palestra a falar sobre livros, tinha 10 anos. Mostrei que os livros podem ser os nossos melhores amigos, que podemos conhecer o mundo através deles e sorrir, mesmo quando a vida não nos deixa sorrir. Emprestei os livros, como quem empresta vidas...e nunca me devolveram os poemas da Sophia, nem tão pouco a Alice Vieira que levaram para baixo da cama.
Era a intelectual, mesmo sem usar os óculos de massa que hoje suporto na cara. Era a intelectual que via o Acontece com o Carlos Pinto Coelho na emissão da televisão pública portuguesa. Reclamava com o meu pai, porque não suportava ter que ver aquilo. Nunca ninguém ia falar com uma miúda que via o Acontece todas as noites. Era o cúmulo do intelectualismo de alguém de 10 anos. Ouvia o Acontece, sem querer, enquanto rogava pragas à televisão.
Mais tarde tudo fez mais sentido, o "assim acontece" do Carlos Pinto Coelho, começou a alimentar os meus trabalhos para a escola e via resultados nessa visualização.
Ontem, enquanto lia a noticia da morte de Carlos Pinto Coelho, saúdei-o à noite. Trouxe-nos a Rua Sésamo, que me ensinou as letras, o Acontece, que me ensinou a ler com o coração e queria-nos trazer uma nova televisão...mais cultural e menos popular.

E assim acontece... para sempre.

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